MACA

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MACA: sonho de artista

Um dos maiores expoentes da arte uruguaia, Pablo Atchugarry inaugura, em Punta del Este, um complexo que deve colocar o país no mapa das maiores exposições do mundo.

Em 1943, com América Invertida, uma de suas obras mais marcantes e emblemáticas, o pintor, desenhista, escultor, escritor e professor uruguaio Joaquín Torres García sugere outra perspectiva, reforçando a busca pelo desenvolvimento e pela valorização da arte latino-americana, característica em sua obra. 

Quase 80 anos depois, essa iniciativa segue viva na realização de um sonho de outro artista: Pablo Atchugarry, conterrâneo de Torres García.  

Inaugurado em janeiro deste ano, o MACA (Museu de Arte Contemporânea Atchugarry) fixa o Uruguai no mapa das grandes exposições internacionais e se destaca na América Latina como um destino turístico e cultural a ser visitado em qualquer época do ano. Um laboratório que promove o desenvolvimento de artistas locais, consagrados e emergentes, funciona também como plataforma educacional, além de ser um centro de reflexões e debates, aberto para todos.

Localizado no km 4,5 da Rota 104, na charmosa Manantiales, em Punta del Este, o museu acrescentou 5,5 mil metros quadrados de arte contemporânea aos pavilhões existentes da Fundação Pablo Atchugarry e seu Parque de Esculturas, de 40 hectares. Fundada em 2007 pelo escultor que dá nome à instituição, ela é uma organização sem fins lucrativos que promove as artes plásticas, a literatura, a música, a dança e outras manifestações criativas. 

Projetado para conversar com a beleza do entorno, o parque oferece ao espectador um ambiente propício para apreciar a monumentalidade das mais de 70 esculturas, assinadas por artistas nacionais e internacionais ‒ entre eles o próprio Atchugarry, Mauro Arbiza, Arman Fernandez, Ignacio Diaz de Rabago e Bruno Munari. Atualmente, a fundação realiza cerca de 50 atividades por ano, entre exposições, espetáculos, concertos, festivais, ciclos de cinema e conferências, e recebe um público diverso, formado pela população local, por estudantes, aposentados e turistas. Todas as atividades são abertas e gratuitas.

Artes combinadas 

Para completar a extensão e a riqueza desse jardim, com seus espelhos d’água e suas colinas no horizonte, os prédios que compõem o complexo do museu, assinados pelo arquiteto uruguaio Carlos Ott, amigo de Pablo, impressionam pela beleza das formas onduladas moldadas em eucalipto-rosa e eucalipto-grandis. 

Também nascido em Montevidéu, assim como Torres García e Atchugarry, Ott é mestre em arquitetura e desenho urbano pela Washington University, School of Architecture em St. Louis, EUA. Depois de iniciar a carreira com trabalhos na Geórgia e na Costa Rica, ele mudou para o Canadá, onde abriu seu próprio escritório, em 1983, mesmo ano em que foi escolhido para projetar a Opéra Bastille, em Paris ‒ um trabalho que expandiu sua arquitetura para Europa, Oriente Médio, Ásia e América do Sul. Hoje sua obra é reconhecida e premiada não apenas no Uruguai, mas também em países como Argentina, França e Estados Unidos.

Para o conjunto, o arquiteto apostou em uma espetacular estrutura de madeira laminada, com curvaturas variadas, aliada a elementos metálicos, vidro, concreto e tijolo. Além do museu, que conta com quatro salas de exibição, auditório, café e restaurante, Carlos assina o anfiteatro, teatro e área externa, que servem de palco para o Arca, um festival internacional de cinema com foco nas artes visuais e na produção latino-americana.  

Toda essa estrutura nasce de um sonho de Pablo: criar um espaço para abrigar e expor sua coleção de pinturas e esculturas, que inclui mais de 50 obras de artistas latino-americanos e europeus, como Julio Le Parc, Carlos Cruz-Diez, Ernesto Neto, Carmelo Arden Quin e, claro, Joaquín Torres García, entre muitos outros. Além disso, o museu também recebe exposições temporárias. Na abertura, uma retrospectiva internacional da obra do casal de artistas Christo e Jeanne-Claude, nomes de destaque nas categorias site-specific e land art e famosos por suas instalações, como Surrounded Islands (1983) e L’Arc de Triomphe Wrapped (2021), exibiu pela primeira vez na América do Sul uma coleção de mais de 50 obras (fotografias, desenhos, colagens e projetos), emprestadas por familiares e colecionadores particulares.

No final dos anos 1970, depois de ter participado de uma série de exposições coletivas em Montevidéu, Buenos Aires, Porto Alegre e Brasília,

Atchugarry fez uma longa viagem pela Europa para estudar e aprofundar seus conhecimentos e suas técnicas artísticas. Na Itália, realizou a primeira mostra pessoal, na cidade de Lecco, em 1978. Mais tarde, ele expôs pinturas em cidades como Milão, Copenhague, Paris, Chur, Bérgamo e Estocolmo. 

No ano seguinte, depois de experimentar diversos materiais, ele descobriu a elegância do mármore e o escolheu como a sua principal matéria-prima. Em 1987, realizou sua primeira exposição individual de esculturas em Milão, na Cripta del Bramantino, com curadoria de Raffaele de Grada. Doze anos depois, o artista inaugurou o Museu Pablo Atchugarry, que abriga trabalhos criados ao longo de sua carreira, bem como a documentação bibliográfica e o arquivo de toda a sua obra. Um dos passos fundamentais para que o artista chegasse até aqui. Atualmente, Atchugarry vive e trabalha entre Lecco, na Itália, e Manantiales, no Uruguai, onde se dedica ao ensino e à divulgação da arte latino-americana, à fundação, ao Parque Internacional de Esculturas Monumentais e, agora, ao MACA.

UNQUIET entrevista Pablo Atchugarry

“O MACA terá um grande impacto na divulgação da arte do Uruguai”

Como surgiu a ideia de criar o MACA?

A ideia de criar o MACA surgiu porque eu achava que havia uma lacuna no Uruguai: um museu dedicado à arte contemporânea uruguaia. E também do desejo de trazer exposições internacionais de alto nível para o país.

A arquitetura é assinada porCarlos Ott. Como foi trabalhar com o arquiteto? Quais foram as premissas para o desenvolvimento do projeto?

O projeto foi entregue ao meu querido amigo e grande arquiteto Carlos Ott. Para mim, foi uma grande honra, uma grande alegria e um grande momento de crescimento poder trabalhar e dialogar com ele, para garantir que o projeto tivesse as características necessárias para um museu que fica fora da cidade, no campo, com uma arquitetura que dialoga com a paisagem e com o ambiente natural.

O MACA é o primeiro museu dedicado à arte contemporânea no Uruguai. Como avalia o impacto da sua abertura no contexto das artes da região?

O impacto já é imenso devido ao projeto, que é de um extraordinário arquiteto uruguaio. E também por muitas das obras que estão presentes na coleção do museu. Acredito que o MACA terá um grande impacto na divulgação da arte uruguaia por meio de seus visitantes, em nível regional e internacional.

Ele é um grande atrativo para o turismo tanto do ponto de vista das exposições quanto do seu ambiente natural. Quais são seus planos para o futuro?

O museu é uma atração turística e cultural não só para os cidadãos que vivem no país, mas também para os visitantes estrangeiros. Uma parte importante desse complexo cultural é o seu ambiente natural: um parque de 40 hectares, onde se destaca o monumental Parque de Esculturas. O fato do museu estar em um local descentralizado, cercado de pássaros, plantas e fauna nativa, faz dele um passeio para toda a família. O que atrai não é apenas a parte interna do museu, mas igualmente a parte externa. O plano para o futuro será continuar acrescentando obras de diferentes artistas de todo o mundo ao Parque de Esculturas.

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